José Rodrigues Dias
11/10/2014 23:27

Canto os pássaros,
os pássaros famintos sobre a neve toda branca de Inverno
quando ao lume da cozinha eu olhava pela janela a rua fria
e o fumo por ali pairava no nevoeiro denso daqueles dias,
era eu ainda garoto…,
os pássaros atrevidos dos meus figos lampos de princípios de Verão
quando mesmo se pela manhãzinha cedo eu chego
já os figos do melhor lado estão comidos
e eu tenho que comer os seus restos
ou aguardar pelo dia seguinte,
quem sabe o quê…,
os pássaros dos ninhos de Primavera
por entre as folhas novas de um outro poema
quando, passando, digo a um neto
“olha, é a casinha deles,
ali puseram os ovos e nasceram os passarinhos
muito pequeninos de bico aberto
esperando a comida que os pais lhe vão trazer”,
“e depois?”, pergunta ele, “e depois?”,
“depois, depois voaram”,
digo eu,
olhando ali tanto céu…,
e também canto
os pássaros que se vão
quando o tempo não sei como lho diz
em outro Outono que já lá vem
e eles assim prontos partem
chegando a um mundo novo
ou talvez velho que se renova
com o seu novo
canto…
Não sou um pássaro,
pelo menos não o sou completamente
mas gosto de voar
muito muito livremente
pelas folhas e ramos e árvores e florestas
de todas as cores do meu tempo
sentindo em cada rebento
e em cada flor
um homem de qualquer cor
a desabrochar novo…