Maria Oliveira
25/03/2022 01:18
Pressinto a criatura encurralada que se convence
Que silenciar sentimentos e opiniões cabe no cesto roto e ambíguo da sensatez
Entrevê aterrorizada a era das trevas, porém agora disfarçada
De uma claridade aparente que atinge o ponto de não retorno
E o apartamento de um ambiente recheado de ociosos sugadores de energia
É premente para manter o amor próprio e a lucidez sadia
A omissão dos nomes apregoa o desprendimento de falsas sonoridades
Este desapego anuncia o escape para a vida ao encontro da serenidade
O poder verbal faz indecoroso pacto com um malfadado campo de minas
Com a promiscuidade política e financeira onde se arquitetam armadilhas
E os vírus minam os corpos abrindo itinerários ditatoriais exibindo garras
Que esgaçam os pobres invisíveis na roleta da sorte dos possessores de vacinas
Espera-se o milagre no oratório enquanto os humanos mortos
Sucumbindo aos venenos disfarçados de nutrimento
Se amontoam em lista de espera em direção gelada para o crematório
Projeto a fuga!
Porque o amor que me preenche se tornou insuficiente
Para manter o bardo e o rebanho a salvo
O tempo escasseia e ainda quero acordar sorridente
Noutro cenário de verde ondulante sarapintado
De pequenos malmequeres brancos e onde a indiferença e a exaustão
Não sejam dissimuladas por fagulhações dançantes
E por adorações icónicas revestidas de fanatismo tribal
Perante o desfecho orientado para o distanciamento dos amantes