Maria Helena Ventura
03/07/2021 01:12
A palavra não quer
o soldo demolidor
do discurso
nem manchar de sangue
a pauta destas horas.
A palavra não quer toldar
o olhar de brumas frias
no desassossego
de gritos abafados
não quer brandir o verbo
no arremesso dos pulsos
não quer...
A palavra quer pousar
no rosto
como pétala de rosa
acenar de longe
como o trigo verde
no orvalho da chegada.
A palavra quer ver
escorrer de manso
o aconchego da permanência
quer mais palavras
no fermento do silêncio
quando a ressonância do azul
for um céu
de estreito enleio
a lavar
as madrugadas.
(In Quando o silêncio falar)