Maria Helena Ventura
28/11/2020 02:47
Não me perguntes
quem sou
o que sinto
se tenho primaveras para dar
ou melancolias de Outono.
Neste sono intemporal
de brumas frias
não corre seiva em mim
assim como estátua empedernida
a pedir voz ao Tempo.
De nada sei...
Pergunta-me tão-só
em que tela-folha-de-papel
posso pintar a luz
do olhar aceso
as mãos que me recolhem
nas dobras do silêncio.
Queria tanto ser ave
aninhada no teu peito
cantar só por cantar
sem dizer nada...
E nada sei
por isso não me perguntes
se é noite de lua cheia
se o desejo agreste de coral
que fere as veias
ainda dorme na praia
do meu corpo
na praia do nosso corpo.
Nunca perguntes
quem somos
quem seremos um dia
se seremos...
A escuridão tem mil janela
ainda por rasgar
e a luz será...
(Maria Helena Ventura in PALAVRAS SEM ALGEMAS)