Leocádia Regalo
21/08/2021 01:52
Desistiu de viver
o que ainda lhe cabia
e rendeu-se ao tempo
esse silêncio rumoroso
que paulatinamente vegeta
no interior das nossas crenças.
Gota
a
gota
se escoa a água
da fatal clepsidra
que intui a oculta brisa
até ao embarque súbito
na misteriosa jangada.
O ser que em nós se abriga
debate-se impunemente
com essa mágoa fria
que não nos restitui
o renovado esplendor
das magnólias
no viço da floração.
Implacável, Cronos
atinge certeiro
a silente circulação
do sangue nas veias.
Vegetal deveria ser
a vocação do poeta
se pudesse renascer
ciclicamente
como o amarelo
avassalador das acácias.
Então a poesia seria seiva.